Cancelado – Pedro e Quim – Cia. Paideia

Apresentação especial de “Pedro e Quim” da Cia. Paideia de Teatro no Dia Mundial do Teatro para a Infância e Juventude (20 de março) promovido pela ASSITEJ internacional. Mais informações sobre a peça no final da página.

Mensagem de Yoshi Oida pelo Dia Mundial do Teatro para a Infância e Juventude 2020

Tradução: Cleiton Echeveste (CBTIJ/ASSITEJ Brasil)

“Desde que nasci, eu cresci imitando meus pais o tempo todo. Como andar, como comer e como falar; eu aprendi tudo isso imitando meus pais. Então, quando eu fiquei velho o suficiente para entender as coisas, levado pelos pais eu aprendi a ir ao teatro. O teatro era para mim, o país mágico. A primeira coisa que você vê quando entra no teatro é uma cortina fechada. Lembro-me de que esperei a cortina se abrir com uma enorme expectativa, imaginando o que havia por trás daquela cortina. Quando a cortina finalmente se abriu, havia um mundo de sonhos criado por um cenário, iluminação e figurinos. Às vezes, era algo criado exatamente como no mundo real e, outras vezes, era uma paisagem impossível no mundo real. Havia artistas em vários disfarces, chorando, rindo, cantando e dançando. E durante o intervalo, ouvimos sons de batidas e barulhos. Se era um teatro pequeno, e eu estava sentado na primeira fila, consegui levantar a cortina para espiar lá dentro. Surpreendentemente, uma cena estava sendo mudada em um instante por um grande cenário que foi virado e puxado para trás. Depois, em casa, eu imitava o ator. O meu papel favorito era o de samurai. Desenhava sobrancelhas masculinas, fazia uma peruca e brincava com meus amigos usando espadas de bambu. Quando eu estava no 7º ano, comecei a fazer modelos em escala de um cenário, um palco giratório, um palco montado com luzes feitas de lâmpadas em miniatura…. E, é claro, tentei fazer mudanças de cena com ele.
A partir dessas experiências, acabei entrando em uma companhia profissional de teatro. Mas, naquela época, não havia escola de teatro contemporâneo. Fui então a um mestre do teatro convencional e aprendi técnicas de teatro convencionalmente transmitidas. Aprender o teatro convencional significa imitar tudo o que o mestre faz e fazer um esforço para ser exatamente como o mestre. Então, um dia, inesperadamente, ganhei a chance de fazer um trabalho com Peter Brook. A primeira lição que tive com ele foi sobre improvisação, que eu nunca havia experimentado. Apesar de me terem dito para improvisar, eu não tinha ideia do que fazer, então comecei a fazer movimentos combinando todos os movimentos convencionais que havia aprendido no Japão. Mas um dia, Brook fez uma observação: “Não imite o teatro convencional japonês”. Impactado com o que ele disse, senti como se tivesse sido jogado sozinho no grande oceano. Eu não tinha nada em que confiar e era como um navio naufragado simplesmente flutuando à deriva. Mas foi nesse momento que comecei a pensar em criar pela primeira vez. Percebi que meu trabalho não era simplesmente reproduzir o que existia no passado da maneira que o teatro convencional faz, mas criar minhas próprias expressões. E criar não é criar algo do nada, como Deus, mas imitar o que já existia e ir além. Van Gogh foi influenciado por Ukiyoe, Picasso criou suas próprias pinturas inspiradas nas artes africanas e Miró recebeu sugestões dos personagens chineses; tudo foi desenvolvido a partir do que já existia.
O caminho que segui é provavelmente o mesmo. Minha vida era imitar o que eu via e ouvia no teatro e depois me esforçava para ir além disso. E essa experiência me levou a encontrar uma maneira de viver, passando pelo teatro e indo além dele.”

Yoshi Oida
Ator, diretor e escritor. Nasceu em Hyogo e m1933. Atualmente reside em Paris, na França. Começou sua carreira como um ator no Bungakuza e na companhia de teatro Shiki. Desde 1970 trabalhou com Peter Brook no CIRT (Centro Internacional de Pesquisa Teatral). Atuou em “Mahabarhata”, “A tempestade” e “O Homem que”, dirigidos por Brook; “Shunkin”, dirigido por Simon McBurney e muitas outras. Também dirigiu diversas peças e óperas. Seu livro “Um ator errante”, publicado em 1989, foi traduzido em 17 línguas e é considerado um “bíblia do ator” em todo o mundo. No Brasil, o livro foi lançado em 1999 pela Editora Beca (SP). Recebeu as seguintes distinções do governo francês: Chevalier de l’Ordre et des Lettres (1992), Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres (2007) e Commandeur de l’Ordre des Arts et Lettres (2013).

MENSAGEM DE YVETTE HARDIE PARA O DIA MUNDIAL DO TEATRO PARA CRIANÇAS E JOVENS

Tradução: Cleiton Echeveste (CBTIJ/ASSITEJ Brasil)

O que significa para uma criança entrar em um encontro criativo, ser convidada para uma nova experiência artística? Por que isso é tão importante para todas as crianças?

Recentemente, tive o privilégio de escutar Yo-Yo Ma, o grande violoncelista, falar e tocar, e ele se referiu ao que chama de hospitalidade cultural. Ele vê isso como a capacidade (e de fato a obrigação) das artes de acolher o que é novo, inovador e criativo, o que é marginalizado, inédito e ignorado… Na sua opinião, é nossa tarefa como artistas sermos hospitaleiros com essas vozes, formas e técnicas, e durante o processo nos permitirmos mudar.

Isso me lembrou o que significa ser anfitrião e o que significa ser hóspede. E um dos elementos mais importantes de ambos os lados é a qualidade da escuta, a vontade de sair do que é conhecido e confortável e de abraçar e celebrar a diferença.

O grande anfitrião é quem faz com que todos se sintam em casa, independentemente de onde eles venham ou quais sejam suas experiências. É quem deixa seu ego de lado por genuíno interesse por essa pessoa que veio visitá-lo. É quem quer dar a todos a melhor experiência possível. O grande convidado é aquele que vem com uma curiosidade sem limites para o encontro, querendo aprender sobre o outro, sem medo de tentar algo novo.

Nesse espaço de receptividade mútua, encontramos conexão, encontramos surpresa e aprendemos profundamente. Deixamos esses encontros alterados. Nós tocamos o que nos torna humanos, em nós mesmos e nos outros…

Este é o momento precioso que as artes nos dão. Como artistas de teatro, precisamos encontrar maneiras de convidar crianças e jovens para esses encontros com um espírito generoso, desejando escutar o público tanto quanto queremos que ele nos escute.

E quando isso acontece, sentimos que a conexão começa a crescer… encontramos um terreno comum, vemos o quadro geral, temos lampejos de compreensão e sentimos aquela onda de sentimento compartilhado que chamamos de empatia. Temos a sensação de que somos importantes, que os outros são importantes, que o que estamos explorando juntos é importante.

Nesta época em que mais e mais pessoas são deixadas de lado, rejeitadas nas fronteiras e nos aeroportos, por serem de classes, etnias, idiomas ou religiões diferentes, é o artista que tem a capacidade de fornecer um sentido de pertencimento, de conexão.

E toda criança precisa disso.

 

Pedro e Quim (Cia. Paideia de Teatro)

“Quando alguém disse que não se devia contar contos de fadas às crianças, porque os faz sofrer, Chesterton respondeu que o que nos ensinam os contos não é que existe medo, mas que é possível triunfar sobre ele, que os perigos unem os seres humanos, que a dor desperta em nós a compaixão, que os fracos podem triunfar sobre os fortes, que os fortes devem lutar contra sua própria fortaleza, que se algo nos dá liberdade e capacidade de resistir são as flores da imaginação.”
William Ospina

“Fala-se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão”.
Theodor Adorno – Educação após Auschwitz

A peça Pedro e Quim recebeu o Prêmio APCA 2018 Teatro Infantojuvenil, Grande Prêmio da Crítica,  por ser um espetáculo “que muito bem explorou o conceito de diversidade étnica, assim como bullying, tolerância e respeito”.

A peça também recebeu o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem – Melhor Texto Original: Amauri Falseti. Pedro e Quim também foi indicado em mais duas categorias: Melhor Espetáculo Infantil e Melhor Ator (Rogério Modesto).

Sinopse:
Pedro e Quim narra a história de amizade e confidência entre dois irmãos. Eles gostam de conversar à noite, quando Pedro conta a Quim histórias, mas Quim quer saber outras coisas: porque a mãe deles tem chorado todos os dias. E por que o pai tem de subitamente ir viajar, e por que Pedro também tem de se mudar.
O texto aborda sutilmente complexidades específicas de momentos históricos e também questões que incidem sobre a vida de todas as crianças: a dificuldade de serem ouvidas, a violência na escola, a falta que sentem de seus pais quando estes não podem estar presentes. Mas também revela as forças que elas encontram à sua disposição: a fantasia, as histórias que as fortalecem, a esperança, o apoio dos familiares. A peça é inspirada na história real de uma família judia alemã que imigrou para o Brasil em 1938.

Apresentações: Sexta, 20 de março, às 15h00
Indicação etária: A partir de 6 anos
Duração: 60 min
Ingressos: R$ 30,00 (ingresso solidário); R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (meia); entrada gratuita para professores da rede pública e alunos da EMEF Carlos de Andrade Rizzini

A bilheteria abre 1h antes de cada apresentação. Formas de pagamento aceitas: dinheiro, cartões de débito, crédito e cheque.
Teatro com 100 lugares, não numerados; acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida; ar condicionado; café.

Ficha técnica:
Texto e Direção: Amauri Falseti | Assistência de direção: Ana Luiza Junqueira | Direção musical: Margot Lohn Kullock | Cenário e figurinos: Aby Cohen | Iluminação: Wagner Freire | Preparação Corporal e Vocal: Suzana Azevedo | Elenco: Aglaia Pusch, Rogério Modesto e Valdênio José | Foto: Rafael Steinhauser